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Um quero-quero na rotatória e o impacto das mudanças climáticas sobre as aves

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O desespero de um quero-quero: aves e as ameaças das mudanças climáticas

Na última segunda-feira (25), eu estava dirigindo para casa após uma viagem a Belo Horizonte (MG), quando próximo à cidade de Caxambu (MG), observei rapidamente um quero-quero no centro de uma grande rotatória gramada circulada pela rodovia. Passei pela rotatória, mas a cena ficou parada na minha mente.

Mesmo que avistar uma das aves mais comuns do Brasil na beira de uma rodovia não seja algo notável, do ponto de vista do mundo da observação de aves, o que me chamou a atenção foi a posição dela. A ave estava praticamente paralisada, parcialmente agachada, mas sem tocar o chão.

O relógio marcava 15h20 em um dos dias mais quentes da onda de calor que assolou o Brasil na semana passada. Nesse momento, o termômetro do carro marcava a temperatura externa de 38°C.

Desconfiei que aquela posição diferente do quero-quero fosse uma tentativa desesperada de proteger algo do sol inclemente. Mais de 1 km depois da cena, encontrei um retorno, dei meia volta na rodovia e parei no acostamento próximo à rotatória. Abri o vidro do carro, já com a câmera em punho, e o bafo quente que veio de fora me deixou um pouco sem reação por alguns segundos.

Quando mirei a câmera e acertei o foco, engoli em seco e fui tomado por uma tristeza profunda ao entender a cena. O quero-quero sombreava com o próprio corpo um ovo solitário para que ele não fosse literalmente cozido vivo pelo calor absurdo.

A intensificação de eventos climáticos - como ondas de calor e de frio, tempestades, ventanias, etc - é apenas uma das muitas ameaças que as aves estão sujeitas, efeitos muitas vezes causados por nós.

Ameaças das mudanças climáticas para as aves

Apesar da cena dramática, o quero-quero não é uma espécie considerada pelos cientistas como especialmente vulnerável às mudanças climáticas. Existem milhares de outras espécies, cujas as projeções de sobrevivência em um futuro não muito distante, são tão catastróficas quanto o futuro clima do planeta.

Outras ameaças das mudanças climáticas para as aves estão relacionadas principalmente com destruição e/ou alteração de habitats, mudanças na disponibilidade de alimentos e interação com novas espécies. Agindo separados ou juntos, esses problemas produzem consequências, como redução de populações, mudanças na distribuição geográfica, novos padrões de migração e maior vulnerabilidade a doenças e parasitas.

Como um dos países do mundo com mais espécies de aves, o Brasil também possui o maior número de espécies afetadas pelas mudanças climáticas. No entanto, características específicas relacionadas, principalmente, com distribuição geográfica, habitat e comportamentos, fazem com que diferentes espécies respondam de forma diferente a esses eventos.

O futuro das aves

Com a temperatura do planeta mais quente, ambientes associados ao clima mais frio, como topos das montanhas, tendem a desaparecer e, com eles, vai junto um número incalculável de espécies.

Não por acaso, um grupo de pesquisadores brasileiros demonstrou em um trabalho recente que nove espécies de aves exclusivas dos topos de montanhas do leste do Brasil correm sério risco de desaparecer por conta da redução drástica dos seus habitats. Entre elas, estão a garrincha-chorona, o beija-flor-de-gravata-vermelha e o pedreiro-do-espinhaço.

Outros estudos apontam que as mudanças climáticas podem transformar, em um futuro próximo, grande parte das florestas da Amazônia em ambientes de savana, causando um "tsunami de extinções". Falando em tsunami, no mar e próximo dele, a situação não é diferente, já que o aumento do nível dos oceanos vai impactar muitas espécies de diferentes formas.

É preciso lembrar ainda que as mudanças climáticas não estão sozinhas, são mais uma das muitas ameaças causadas pelo homem à biodiversidade. Atuando juntas, essas ameaças podem aumentar seu poder de destruição e impactar ainda mais a biodiversidade. Para espécies com populações já reduzidas por conta de desmatamento, caça ou competição com espécies exóticas, por exemplo, as mudanças climáticas podem ser a "pá de cal".

Mudança de rumo

Mais do que uma cena triste, o quero-quero na rotatória é uma mensagem de desespero vinda do futuro que já virou passado. Precisamos mudar o rumo da humanidade e agir de verdade para que um "ovo" chamado planeta Terra também não cozinhe.

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